sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ética : Quero - devo - posso (Carmen Lúcia Couto)



Será que estamos sendo leais, transparentes e éticos uns com os outros?

 Na sociedade contemporânea há um questionamento grande sobre o que é essencial e o que é secundário para o convívio social. Embora esses questionamentos se destaquem mais em nossa época, na verdade eles nasceram no momento em que o homem passou a viver em sociedade e, para tanto, começou a perceber a necessidade de "regras" que regulamentassem esse convívio. Dentro desse mundo de normas e regras, para obter-se o bom relacionamento social, destaca-se a ética.
Quando falamos em ética associamos à moral. As duas andam lado a lado. Ética é a concepção, o princípio e a moral é a pratica de uma ética. Em resumo, a moral trata do conjunto de valores, de normas e de noções do que é certo ou errado e proibido e permitido, dentro de uma determinada sociedade e de uma cultura. A moral tem a ver com os valores que regem a ação humana enquanto inserida na convivência social, tendo assim um caráter normativo.
A palavra ética é de origem grega derivada deethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos dos homens. Teria sido traduzida em latim por mos oumores (no plural), sendo essa a origem da palavra moral.
Uma das possíveis definições de ética seria a de que é uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. Em outras palavras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual.
A Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis. Vásquez (1998)
         O ser humano vive em grupo e ao vivermos em grupo ou comunidade estamos sujeitos às regras, explícitas ou implícitas. As primeiras dizem respeito às orientações escritas, determinadas e “postas no papel”, já as segundas, são regras determinadas pelo grupo, de acordo com o ambiente, cultura e outros fatores. No dia a dia, elas nos norteiam para a boa convivência em sociedade, seja no trabalho, na sala de aula, no condomínio e até no churrasco final de semana.
Essas regras e práticas positivas são moldadas em um código moral e são importantes para que possamos viver em sociedade, fato que fortalece cada vez mais a coesão dos laços que garantem a solidariedade social. Do contrário, teríamos uma situação de caos, de luta de todos contra todos para o atendimento de nossos desejos.
         Dentro desse contexto cada integrante do grupo, tem seus princípios éticos que nos fazem refletir (ou pelo menos deveriam fazer!!) se o que queremos, devemos ou podemos ter ou realizar.
         Nesse raciocínio do quero/devo/posso, o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella, conceitua ética como um “conjunto de valores e princípios que usamos para decidir três grandes questões das nossas vidas: quero, devo e posso. Para descobrir se a ética está presente em uma decisão, avalie: - Se o que quer fazer deve ser feito; - Se o que deve fazer pode ser feito; - Se o que pode fazer, você quer que seja feito”.
Isso quer dizer: tem coisa que eu quero, mas não devo; tem coisa que eu devo, mas não posso; tem coisa que eu posso, mas não quero. Essas questões são os nossos Dilemas Éticos, ou seja, escolhas indesejáveis ou desagradáveis relacionadas com um princípio ou uma prática moral. Passamos por isso sempre que temos uma decisão importante a tomar. Sendo assim, quando vamos colocar em prática, não se trata de uma tarefa tão fácil, mas se todos pudessem realizar essa avaliação com certeza nossos dias seriam melhores. Se todos procurassem ser éticos nas suas ações, os limites do próximo seriam respeitados.

Reflita sobre isso!!!!


Mais sobre a autora do texto acima , confira em:
http://carmen-fonseca.blogspot.com.br/

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domingo, 9 de fevereiro de 2014

E AGORA O QUE FAZEMOS? por Lya Luft



Passaram as festas. Traçados os projetos, dados os abraços, reuniões de família e amigos superadas, boas e alegres ou chatas e fingidas. De repente cessa o tumulto e estamos sós diante da lista de boas intenções, no papel ou na memória.

Ou, se formos mais realistas, apenas com esse desejo real de que as coisas andem direito, que a saúde aguente, que os afetos persistam, que a alegria seja maior do que a angústia, e que alguma coisa afinal se realize.

Temos pela frente o chamado ano de eleições: há meses começaram as campanhas várias e variadas, as alianças certas ou bizarras, as mudanças, as traições óbvias ou sorrateiras, nesse relacionamento espúrio da política.

Com exceções, procurando bem ainda encontramos em quem confiar, mas a máquina do poder é tão poderosa que é preciso lutar bem, torcer direito, batalhar de peito aberto para que tudo melhore.

Lembramos os infelizes massacrados por deslizamentos e enchentes de dois anos atrás, cujas casas continuam destruídas, carros afundados na lama, escolas fechadas, ruas inexistentes, cidadezinha quase fantasmal – tudo repetido ainda agora.

E o resto sendo o de todo ano: as mesmas enchentes, os mesmos deslizamentos, parece até que sempre as mesmas mortes, e nada, quase nada, se fez. O dinheiro que havia não foi empregado. Se foi desviado, não sabemos, e é melhor nem saber: há desgostos que se acumulam e turvam nossa visão da vida, parece que nunca mais ninguém terá direito de ser alegre, esperançoso, otimista.

Melhor não ver todos os noticiosos, que são a repetição cruel de acontecimentos cruéis, melhor se alienar? Não sei se isso seria o melhor, mas é preciso, neste novo ano, mais do que nunca, construir uma espécie de escudo para a alma, ou morreremos flechados como um São Sebastião varado de ferros pontudos.

A gente precisa continuar acreditando: que vale a pena ser honesto. Que vale a pena estudar. Que vale a pena trabalhar. Que é preciso construir: a vida, o futuro, o caráter, a família, as amizades e os amores. Pois tudo é construção, nós os operários. Construir uma existência que não desmorone com as chuvas, não solte avalanches que vão deslizar e sufocar, aos outros ou a nós mesmos, e arrasar o que foi feito.

É difícil? Às vezes é. É tedioso eventualmente, como ter de educar uma criança. Um rapaz que foi pai muito jovem, e era um pai maravilhoso, certa vez se queixou sorrindo: “Todo dia a mesma coisa, levanta a tampa do vaso, escova os dentes, não fala de boca cheia, aquelas coisas”. Mas ainda bem que não é só isso, comentamos, tem também a graça, a ternura, a alegria, o assombro quando a pessoazinha evolui, cresce, se manifesta, se transforma.

Tem as risadas, o jogo de bola, ou a boneca nova, ou ensinar a andar de bicicleta, ou ficar abraçados de noite olhando as estrelas. Tem muita coisa boa. Tem o chato também, como em tudo na vida. Então nós nos educamos, neste novo ano já em curso, para fazer tudo direitinho, dentro do possível. Pensar, discernir, escolher, escolher bem, no pessoal e no público.

Tem também a Copa, essa eu havia esquecido, com tantos comentários negativos, bilhões para a Copa e tão pouco para a fome, a miséria, a ignorância, a doença. A moradia, casinhas caindo aos pedaços no primeiro dia, ou casa nenhuma, barracos, tendas, papelão e lata.

Mas este ano da Copa pode também trazer coisas boas: algum dinheiro, algum turista, algum comentário no exterior que não se limite à pobreza, à violência, ao Carnaval e às nossas mazelas. Que lá fora sejam menos ignorantes, não, não temos onças nas esquinas, e às vezes se consegue sair para estudar ou trabalhar sem ser varado de bala perdida.

Sim, aqui temos editoras, e leitores, algumas boas universidades, e excelente medicina em algumas ilhas de excelência. (Temos ilhas de excelência.)

E, por que não?, temos uma democracia que tem de funcionar e proporcionar a este povo brasileiro decência, dignidade, alegria, segurança, respeito, seriedade. Que sejamos, com eleições e Copa e toda a balbúrdia, menos alienados e menos fúteis – para sermos menos sofridos.


Lya Luft

Artigo publicado em edição impressa de VEJA

Disponível em: 
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/lya-luft-e-agora-o-que-fazemos/

Texto enviado pela Professora Lucíola Faria. 

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